CAILLECH
DEUSA CELTA DA NOITE E DA MORTE
Etimologia
A
palavra Cailleach significa "a mãe anciã" ou "a
velha" no gaélico moderno, e provém do irlandês antigo caillech
("véu"), que provavelmente tenha a mesma origem que o latim pallium
("pálio", "capa"). Este termo passou para a língua gaélica
durante as invasões romanas ao território celta; ao adaptar a palavra à dicção
celta, o "p" mudou para "c", e a terminação foi substituída
por –ach, que neste idioma servia para marcar adjetivos qualificativos.
Com a raiz latina pallium e o morfema celta -ach, o significado
literal de Cailleach seria "a velha com véu", "a anciã
que está de véu". Este vocábulo é por vezes usado como sinônimo de bruxa
na Irlanda e na Escócia. Enquanto a Bheur, a sua origem é desconhecida. Berry,
uma das suas variantes, significa "baga" em inglês. Adicionalmente,
acredita-se que deste vocábulo derive o nome da península de Beara, possível
local de origem desta deusa. Em resume, o significado completo do nome Cailleach
Bheur, em todas as suas variantes, poderia ser "a anciã com véu que
habita em Beara". Outro possível significado desta palavra em gaélico é
"amarelo", cor considerada nesta mitologia como a da morte e da
putrefação.
Aparência física e características
A
deusa Cailleach era representada usualmente como uma anciã de pele azulada, um
só olho no centro da testa que lhe dava certo parecido com o ciclope Polifemo,
dentadura de urso e colmilhos de javali. Era representada com vestimenta
cinzenta, com um avental e com uma espécie de xale ou de capa de tela escocesa
nos ombros; e portando às costas uma aljava com flechas de ouro e um arco de madeira
de sabugueiro para atacar a quem matasse lobos, javalis e cervos, animais que
defendia. Pelo contrário, segundo outra versão, ajudava os caçadores a
localizarem esses animais, indicando-lhes onde e quando lançar as flechas.
Outras lendas falam da sua varinha mágica, feita de madeira de azevinho, que
usava para murchar as folhas no início do Outono e para se converter finalmente
em pedra no fim do Inverno. Segundo outras fontes, a varinha era feita com pele
humana e na sua saia havia rochas que iam caindo quando avançava. Outra lenda
afirma que uma longa caminhada da Cailleach teria originado todos os vales,
montanhas e lagos. Adicionalmente, no Inverno, segundo outras tradições, ia
montada num grande lobo voador, distribuindo o frio em todas as regiões.
A
crença mais estendida entre os celtas da Grã-Bretanha era que, na realidade,
Cailleach, a velha feiticeira protetora, era a mesma pessoa que a deusa do
fogo, da poesia e da Primavera, Brigit. No final da estação invernal, a
primeira, segundo as lendas dos gauleses, tornava-se voluntariamente numa rocha
de grande tamanho, situada junto a um azevinho, local no que não cresce a erva
pelo desgosto que a esta lhe provoca. Contudo, segundo outras lendas celtas,
viaja em 31 de janeiro para a ilha de Avalon, onde fica a "árvore da
juventude eterna", da qual comia para se tornar nova e atraente,
transformando-se assim em Brigit. Assim, podia acudir à celebração do Imbolc,
um ritual celta no início da Primavera, para que a terra reverdecesse. Outra
versão da mesma história sustém que na realidade, a Cailleach mantém
prisioneira a Brigit todos os anos para a libertar em Imbolc, o seu ritual
sagrado. Também pode ser liberta por Angus McOg, uma divindade celta do amor
que se mantém sempre jovem. Outra crença dos celtas sobre esta deusa é que
"nasce" velha no início do Inverno e depois vai rejuvenescendo sem se
converter em pedra nem viajar até Avalon, mas pela autoria de um processo
natural. Esta tradição estava difundida, sobretudo, em Gales e na Inglaterra.
Cailleach também prediz o clima, protege os druidas e transforma-se em grou
para salvar grandes distâncias. A Rainha do Inverno, título que lhe
adjudicavam os celtas, buscava guerreiros e heróis nas florestas pedindo amor,
e quando o recebia transformava-se numa formosa mulher jovem. Quando o seu
esposo falecia, repetia a mesma operação. Tinha pelo menos cinquenta filhos,
entre os quais havia povos e raças na íntegra.
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